EROS - O pestinha do Cupido
EROS: personificação do AMOR. Ele é o amor. É quem possibilita a união, a vida, a multiplicação, a fecundação: o SER. Temos enfim o último deus que fecha o quarteto do início do mundo, segundo Hesíodo. Se CAOS e TÁRTARO são o não-ser, porque Tártaro aprisiona e Caos separa (não forma um casal), EROS é do time de GAIA. O time do ser, da promoção dos casais que darão continuidade ao mundo.
Mas a versão mais bacana de EROS é a de Homero. Na Ilíada, quando as tropas de Menelau seguem para a guerra de Tróia, Homero fala-nos do Pestinha do Cupido (eu o chamo assim), aquele deus-menino que vivia disparando flechas, adoidado, nos deuses e mortais, gerando uma confusão danada. É o filho de Ares e Afrodite. Boa coisa não iria sair, correto?
A história de amor de EROS e PSIQUÊ é uma das mais lindas da mitologia grega. Psiquê, uma mortal lindíssima e fadada a sofrer - justamente porque era belíssima. E mais: era linda e ninguém queria casar-se com ela, somente contemplá-la. Quanta ironia. Os rapazes tinham medo de tanta beleza. O pai, vendo que a filha não desencalhava, consulta o oráculo e segue seu conselho: prende Psiquê num rochedo para que um monstro, que irá desposá-la, vá lhe buscar. Que oráculo maluco.
Afrodite, que andava com inveja da beleza de Psiquê, porque os homens deixaram de adorá-la nos templos para correr atrás da outra bela, arma uma cilada: pede a EROS, seu filho, que vá até o rochedo e espere Psiquê com suas piores flechas: de ódio, desprezo, engano. E Eros foi. Ao vê-la de longe, EROS posiciona-se para flechá-la, quando de repente Psiquê vira o rosto. Eros a viu de longe e ficou embasbacado: que mortal mais linda... Ficou tão petrificado que uma das flechas escorregou e o feriu no peito. Pronto. O feitiço virou-se contra o filho da feiticeira. Eros, filho de Afrodite, fora flechado pelo amor.
Por causa do arranhão ele voou de volta ao Olimpo para recuperar-se em seu reino. De lá deu ordens ao vento Zéfiro para conduzir Psiquê até o seu palácio encantado. A mortal então encanta-se com a beleza do palácio e com o tratamento de rainha que começa a receber ali. Foi instruída a aguardar o seu marido à noite. Ao chegar, Eros entra no quarto escuro e dá a Psiquê a noite de amor mais sonhada por todos os mortais. Eros e Psiquê estão apaixonados. Eros e Psiquê começam a se amar profundamente. O deus, que não quer revelar-se como tal, avisa à amada que não pode revelar o seu rosto. E pede que ela apenas o ame. Em seguida deixa o quarto, antes do amanhecer.
Seguem-se os dias e Psiquê está feliz e realizada, tanto que sente vontade de contar sobre sua felicidade a seu pai e suas irmãs. Eros é contra, mas acaba aceitando. Aqui percebemos o quão invejosas as irmãs de Psiquê são: ao invés de vibrarem com a irmã, instiga-a a ver o rosto do marido. E assim ela procede. No seu regresso, depois de terem uma doce noite de amor, Eros adormece como de costume. Psiquê apanha uma lamparina e acende para ver o rosto do deus. Que rosto lindo... Psiquê fica tão inebriada com a beleza, que deixa uma gota de óleo ardente cair no ombro do marido. Ops. Eros acorda e vê que Psiquê traiu a sua confiança. Eros levanta-se, prepara as asas e parte. O amor está ferido. O amor não suporta a desconfiança.
O gentil Zéfiro aparece nesse momento e a leva de volta ao rochedo. Psiquê estava triste e sem saber o que fazer. Perambulou, perambulou e decidiu buscar o templo de Afrodite para se aconselhar. É lógico que a mãe de Eros estava irada com a mortal por ter ferido o seu filhote. Ela acaba aparecendo para Psiquê. Afrodite então pede a Psiquê que realize três trabalhos. A idéia aqui era fazê-la sofrer, porque Psiquê precisava aprender a arte de amar e saber que beleza não é suficiente para ter o seu amado. Dedicar-se com afinco ao outro, era preciso. Caso Psiquê sobrevivesse aos três desafios, teria seu querido de volta. Já viu que não ia ser nada fácil.
1º desafio: separar trinta tipos de cereais num só dia. Psiquê, depois de vinte e oito horas seguidas separando os grãos, caiu de sono, exaurida. Um grupo de formigas que viu o seu esforço, hora após hora, ajudou a separar os cereais e Psiquê concluiu a tarefa.
2º desafio: tosquiar lindíssimos carneiros de lã de ouro. Mas como? Os carneirinhos eram canibais. Psiquê ficou horas martirizando-se para encontrar uma maneira. Apolo viu a sua angústia e deu a dica: “quando eu fizer a carreira do sol, ao meio-dia, atravesse o rio e tose a lã dos carneiros. Somente neste horário eles estarão dóceis e não te devorarão. Cuidado com o horário: tem que ser ao meio-dia. Psiquê, atenta, conseguiu cumprir o segundo desafio!
3º desafio: ir no Hades buscar a caixa da beleza eterna de Perséfone. Afrodite se queixara que Psiquê desgastou sua beleza ao roubar sua audiência nos templos e ao ferir o seu filho. Mas, espera. Como descer viva no Hades? Somente os mortos entravam ali. Cérbero iria estraçalhá-la se tentasse sair de lá com a caixa da beleza. Psiquê angustiou-se mais uma vez e agora foi Hermes quem se condoeu. Somente ele e suas sandálias aladas, entravam e saiam do Hades ilesos. Hermes oferece sua ajuda. Dessa maneira então, Psiquê chega no palácio do Hades, conduzida pelo mensageiro de Zeus e recebe a caixa das mãos de Perséfone. Uma recomendação: não abri-la, pois somente os deuses podiam fazê-lo.
Psiquê inicia seu retorno do Hades e erra profundamente. Cansadíssima das três árduas tarefas, ela acha que sua beleza também se desgastou e decide recuperar um pouco, abrindo a caixinha. Só assim poderia ver Eros outra vez, linda como antes. Doce ilusão. Ao abrir a caixa, o sono Estige (sono dos mortos) escapa, e atinge a mortal. Ela sucumbe. Está morta. Ousou igualar-se às deusas: somente estas poderiam abrir a caixa e ter acesso à beleza eterna. Cultivar a beleza acima de tudo, não é o melhor caminho...
Zeus acompanhou todo o sofrimento de Psiquê e viu que era suficiente. Resgatou-a para o Olimpo e tornou-a imortal. Eros, que estava morto de saudade, recebeu-a carinhoso e apaixonado. Em seguida Zeus ordenou que fosse realizada no Olimpo uma belíssima cerimônia para celebrar o casamento de Eros e Psiquê. A sogra Afrodite, esqueceu a inveja de Psiquê e os abençoou.